segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

Poema rápido para afogar as últimas mágoas no ano.

Vai âncora das minhas mágoas
Rebenta a superfície ondulada
Da superfície enganosa das águas

E afunda bem fundo, no escuro quieto
Pousando ali pra sempre, no esquecimento
Todos dissabores que me seguiram de perto

E pega alguém o machado afiado, lâmina algoz
Pra quebrar de uma vez pra sempre a corrente
Da memória aguda que me gruda a esses nós.

Vai nau desperta e desesperada, vai veloz nas vagas
Desliza ao teu destino desconhecido e que seja bom
Para que nunca, jamais tenhas de rogar pragas

Iça apenas tuas velas e que o vento te leve
Que o vento te vele e te vente, sopra com ele
Que seja feliz tua ida, que seja Deus quem navegue!

Fernando Vieira

terça-feira, 8 de dezembro de 2009

Eu vivo Caetano

Pessoal, não é do meu feitio usar criações alheias, mas o Caetano é o Caetano, né?

Um amor assim delicado
Você pega e despreza
Não devia ter despertado
Ajoelha e não reza

Dessa coisa que mete medo
Pela sua grandeza
Não sou o único culpado
Disso eu tenho a certeza

Princesa, surpresa, você me arrasou
Serpente, nem sente, que me envenenou
Senhora, e agora, me diga onde eu vou
Senhora, Serpente, Princesa

Um amor assim violento
Quando torna-se mágoa
É o avesso de um sentimento
Oceano sem água

Ondas, desejo de vingança
Dessa desnatureza
Bateu forte sem esperança
Contra a tua dureza

Um amor assim delicado
Nenhum homem daria
Talvez tenha sido pecado
Apostar na alegria

Você pensa que eu tenho tudo
E vazio me deixa
Mas Deus não quer que eu fique mudo
E eu te grito esta queixa.

terça-feira, 1 de dezembro de 2009

Princesa

Puseram na cabeça dela que era uma princesa. Isso não me foi novidade. Eu sempre soube que toda mulher acredita que seja, de fato, uma princesa. Mais do que isso: acreditam, impiamente, que sejam estrelas grandiosas como o Sol. Eis aí o maior engano, pois os astros não possuem movimento de rotação, e é isso o que é a vida de uma mulher, rotar em torno de si mesma, mascarando sua auto-idolatria com fragilidades e meiguices, dizendo elas serem esses os motivos de não suportarem a dureza masculina, a verdade dura e rude masculina. Não é nada disso, é apenas seu amor próprio ferido. Nelson Rodrigues mesmo diz que toda mulher nutre um amor lesbiano por si mesma. É fato.
Desconfie de toda dedicação feminina. Desconfie meu caro. Não se trata de abnegação, em nome de uma amor sublime que sinta por alguém. Elas sabem que, mais cedo ou mais tarde, esse ser vil - o homem - com suas praticidades grosseiras lhes dará azo para fazerem-se de vítima e, tenha certeza, vão se fazer de vítimas. É nessa hora que o homem mostra toda sua estupidez humana e assume para si uma culpa que não é sua. Dessa forma, e já vão aí algumas décadas, de tanto que assumimos culpas absurdas, fomos crescendo acostumados a aceitar que não passamos de dragões, corcundas ou sapos nesse enorme conto de fadas que se tornou a vida moderna. Até que, de repente, de tanto que se calou, esse homem-dragão explode e acorda num mundo novo, onde toda cegueira inexiste.
O que ele vê? Que na verdade é ele quem esteve preso na torre, junto com tantos outros homens, que se tornaram escravos dessas megalomaníacas reais, vivendo a vida inteira em função de uma realeza que continua a exercer um despotismo absurdo contra a psiquê de seres que apenas as veneram.
Há aqueles que acreditam tanto nesse conto da carochinha que preferem travestir-se delas, não porque acreditem que vieram no corpo errado, mas sim porque incoscientemente acreditam que ser homem é a coisa mais vil que podia acontecer a um humano.
Estou feliz com minha masculinidade - e que me chamem de machista - estou feliz por não estar disposto a alimentar as frescuras reais de nenhuma princesinha alienada.

quinta-feira, 19 de novembro de 2009

ADÃO

Tudo é pra gente, atente:
A menina de saia curta
Que tal mulher logo surta,
Contrapondo sua maturidade
Aos meninos na mesma idade.

Tudo é pra gente, atente:
Se demoramos a crescer,
É por termos mais prazer.
A cada coisa fazer com fervor:
Eis a razão pra tão bom humor!

Tudo é pra gente, atente:
Corpo mais prático, impossível!
Faz a gente bem menos irascível.
A nossa herança nelas guardamos.
Graças a Deus não engravidamos!

Tudo é pra gente, atente:
O nosso gozo é mais garantido,
Ainda q'o delas não tenhamos cumprido
E, se por acaso, não estivermos a fim,
Nem que queiramos, podemos fingir.

Tudo é pra gente, atente:
Qual vinho o tempo nos trata:
As cãs brancas luzem tal prata.
Lembra da menina que logo amadurece?
Foi feita pra nós, isso mui me apetece!


(Fernando Vieira - sobre a vida 09/11/2009)

domingo, 1 de novembro de 2009

Wannessa


Voz rouca ao telefone,
Beleza fotografada
A rua de boca aberta
Zelo estampado nos olhos

O meu desejo cresce
Não é foto, é real!
Eu que estou com você
As lágrimas querem escapar

Já te falei q’adoro tua voz?
Meu Deus! Eu posso tocar!
Que bom que está comigo
Quanto sentimento guardado!

Seu jeito livre também
Beijar, sentir, saborear
Gostar: o jeito certo de ter
É muito bom ser amado

Nossas brigas tão falsas
Você: O meu banquete
Temos um ao outro
Saber que você pensa em mim.

(Fernando Vieira – Poema pra quem me faz bem 28/10/09).

sexta-feira, 16 de outubro de 2009

15102009 LUTO

Pelos anos que passamos juntos
E as mordidas que você me deu
Atracados descobrimos mundos
Quando enfim você cresceu

Era festa ver você pedir
Como se entendesse português
"Me leva hoje pra sair"
Tal a moça pede ao burguês

Por todas as nossas brigas
E suas trairagens
Por toda a sua comida
Melhor do que lavagem

Eu te perdoo, calmo fica!
Pelos teus uivos noturnos
Desque assim não faça fita
Por surra sofrida a urros

Saudades de ti já sinto
Exceto pelas derradeiras suas
Cagavas, mijavas, não minto
Na tua casinha! Por quê?

Passeia bastante no céu
Aí não tens motivo para uivar
A tua ração será como mel
Jamais vão te acorrentar.


(Fernando Vieira - Em memória de Toby 16/10/2009)







terça-feira, 6 de outubro de 2009

Colegial



Ciranda da meninice,

Rodava a me machucar.

Sem entender... Se o que sentia

Dava pra ter a permissão.



O tempo nos separou,

De fato foi minha fé

Que me cegou, que me traiu,

Bicho ruim a me corroer.



Vai e volta essa vida... Encontro!



De seda tão delicada,

Seu corpo róseo ainda é.

Tanto prazer, ao me rever,

Reacendeu minha paixão.



Vai e volta esse amor...



Temor... Mistério...



Desejo!


(Fernando Vieira, para Gisele)

segunda-feira, 21 de setembro de 2009

Valéria




Feitiço que você lançou
Suspende minh’alma no ar
Saída de mim, postada à minha frente,
Querendo a sua alma abraçar

Um beijo, ou suspiro? Não sei.
Tremi quando enfim percebi
Que em sua boca eu buscava meu ar
Feliz por apenas lhe olhar.

Você tomou conta de mim
Com sua voz rouca de vento
Eu, uma folha a voar.
Seu corpo, no meu, resvalar.

O Feitiço em pessoa é você.
Diariamente é você.
Se faz tão presente, quiçá lhe tocar
Me abraça, me dá seus cabelos, te quero...

Não posso negar.

(22/10/2008 22:15)

sexta-feira, 11 de setembro de 2009

Hoje em dia

Elas reclamam a liberdade
Por anos de opressão
Em que sofreram crueldades
Mas eu não fiz nada não.

Elas querem a primazia
A plena satisfação
Pois, reputadas por vasilhas,
De mim tive de abrir mão.

Eu que sempre ganhei pouco
Ouço orgulhos e ameaças
E, valorizado seu soldo,
Tudo é motivo para farsas.

Hoje em dia é bom ser estéril
Do contrário viramos escravos
Ter filhos dá cana, é sério.
Um Sim na igreja é pior que dois travos.

E assim gira a Terra
O constante passa e repassa
Contra elas, fizeram guerra
E homens de hoje, herdam a desgraça.


(Fernando Vieira, 10 de novembro 2008).

quinta-feira, 13 de agosto de 2009

A Vida É Ressaca


O que não me cabe no peito
Deve ser solto aos poucos
Em cada estrofe, num verso.
Vai ser um poema longo.

O nevoeiro da vida
A treva tão espessa e branca
Ouvidos tapados, cadê meu grito?
Estou cansado, eu quero chorar.

Alma úmida e gelada
Faz os dentes morderem-se
Há tantos galhos pra podar
De tantas coisas falarei:

Essa sua ausência,
Que me põe triste e servil.
A ausência da luz
Que não me deixa dormir.

Perguntas que não me atrevo
Não quero expor minhas fraquezas.
Descobrir o indecifrável
Temer o seu segredo.

Engolir meu pranto,
Não há quem queira enxugá-lo.
Haveria alguém digno de minhas lágrimas?
Secar não basta. É preciso bebê-las.

Estou sozinho!
Que pecado cometi?
Fui feliz em outra vida?
Neguei ajuda a toda Terra?

Só, não fossem meus eus!
São eles que me acompanham
Ora me dando acordo, ora me afrontando.
Então eu estou só, é isso mesmo?

Preciso endurecer,
Enrijecer o peito,
Não contar com ajudas,
Não abrir a palma da mão.

Quero voltar à estupidez,
Estandartizada por minha adolescência.
Quando eu era um mero arrogante
Que não contava com ninguém.

Quero descrer de uma vez só na vida
Jogar fora o defeito da esperança
Que há tanto tempo trago comigo.
Esquecer a minha religião.

Pra adiantar de vez minha vida
Por minha força apenas, segundo meus meios
E se isso significar a abreviação da vida,
Que sejam cortados meus dias e adiantada minha paz.

Que um milagre me cure dessa ressaca
Que insiste em me arrancar e devolver
Tudo o que na minha vida não anda
Maldito fluxo e refluxo!

Quisera eu desvendar os segredos de Deus
Mesmo que eu morresse em seguida
Já não sei o que mais importa:
Viver ou saber. Só quero ser feliz.

Que meu corpo tenha força outra vez
Só por agora, nesse momento,
Pra que o choro seja posto fora,
Aqui dentro não dá, é apertado demais.

(Fernando Vieira – 09/08/09 – Sobre a ausência que é presente na vida).

segunda-feira, 3 de agosto de 2009

Sobre nós dois

Estive pensando no absurdo que imaginamos às vezes. Como podemos saber, por exemplo, que o que sentimos é o mesmo, ou mais, ou menos do que aquilo que outra pessoa sente por nós?
Foi aí que me dei conta de que isso é impossível e é improvável até mesmo que a outra pessoa, que diz que sente bem menos que você, saiba o quanto, de fato, sente por você e você por ela. Cheguei à conclusão de que o que pode ser maior, na verdade, não é o amor, e sim o egoísmo.
É pra você que eu digo isso, e você sabe que é contigo: Eu tenho sido egoísta em querer todo o seu tempo só pra mim e tenho mascarado isso por atrás de uma porcentagem alta que, supomos, seja 100%. E é exatamente, nesse ponto, que a gente empata. Quando me dei conta de que eu era um tremendo egoísta, lembrei que você também era e por isso não está lá muito preocupada com as pessoas à sua volta, o quanto essas pessoas vão e já estão se ferindo. Quando nos apaixonamos ficamos muito mais apaixonados por nós mesmos. E apreciamos tanto o nosso umbigo que não queremos abrir mão daquilo que julgamos ser o mais importante pra nós mesmos. Eu preocupado com meu orgulho, a possível humilhação que possa vir a sofrer e você preocupada em ter toda a satisfação que sua alma anseia, mesmo que pra isso tenha que passar por cima dos corações de todas as pessoas que diz que ama de alguma maneira.
"Não importa o que sentimos e sim o que fazemos", ouvi isso ontem, enquanto assistia o filme "O Leitor". Parei pra pensar no que sinto por você e no que devia fazer e continuo aqui, sem saber nada sobre essa estranha descoberta que foi as nossas vidas e sem saber qual passo dar.

quinta-feira, 30 de julho de 2009

Labirinto


O Espelho
O Vulto


Entrar no labirinto
Caçando o minotauro
Ver-se na imagem do monstro

Fuga
Ângulos estatelados


Procurar um fio que lhe dê lógica
Uma saída, uma esperança.
Onde está Ariadne?


Matar o monstro
Morrer aos poucos

Corredores que saem pelo Átrio
E desembocam nos Ventrículos
Os seus próprios


Perdido em si
Sem saída.


(Fernando Vieira – Sobre o outono da vida, partir e nascer).

quinta-feira, 16 de julho de 2009

Crises

Um break nas poesias. Às vezes é preciso um pouco de dissertação. Tenho pensado muito, nos últimos dias, sobre o verdadeiro papel do Homem na terra. Digo, do Homem, enquanto gênero. Afinal, tenho ouvido desde minha meninice que não somos lá pessoas de caráter; na minha adolescência ouvi que as Mulheres são melhores que nós em tudo e agora, nessa minha mocidade adulta (mocidade adulta! Um bom modo de não admitir que estou ficando velho!) vi que não é preciso um esperma para se ter um embrião. E, como se não bastasse tudo isso, ainda tenho que aceitar o fato de que tais problemas e desafios chegam a ser desinteressantes até mesmo para os próprios homens, que não enxergam a crise masculina na qual estamos inseridos. Mas o que poderia se esperar de seres que, atualmente, nem sequer acreditam que "Ser Homem" seja lá alguma coisa digna? Às vezes fico na esperança de que os cientistas resolvam investigar o código genético masculino, a fim de provarem que de um esperma pode-se criar um óvulo também e, diferentemente das Mulheres, que só possuem os gametas X's, o óvulo proveniente dos Homens teriam as duas cargas (X e Y) já que, de fato, possuímos as duas versões. Então, nesse dia, eu poderia acreditar que nós, os homens, estamos aqui com uma função sublime: A de dar ou fazer a vida. Mas para que eu creia nisso, dependo da boa vontade e do interesse que, talvez, um dia os cientistas possam ter no Homem, porque atualmente o Homem se tornou tão desinteressante, que ninguém mais quer conhecê-lo, nem ele próprio. Talvez sejamos isso, o que realmente sempre fomos: Apenas coadijuvantes num palco onde a personagem principal é a Mulher. Se não é verdade, é assim que fomos educados a vida toda por nossas mães. Mãe! Está aí a única verdade absolutamente comprovada. Ninguém duvida de que elas existam. Podem duvidar da paternidade, mas jamais da maternidade, pois é algo notório para todos. Já a paternidade depende, exclusivamente, da nomeação feita pela mãe. Nem Deus escapou disso. Ninguém duvida de que Jesus Cristo foi filho de Maria. Mas quantos duvidam de que ele seja filho de Deus, ou mesmo de José? Ao menos vejo que, nisso tudo, a vida do homem muito se assemelha com a existência de Deus: De nós sai a vida, mas sempre quem fica com as glórias são elas. Se formos heróis, nosso caminho é a morte, e elas sobrevivem, para gozar dos ganhos e das glórias. Brincadeira mais sem graça essa que Deus fez com a gente.

quinta-feira, 2 de julho de 2009

Sobre suas dúvidas ou O último poema.


Eu não via mesmo a hora
De sair do carro e ir embora
Pra ficar longe da visão doída
De ver você nos privar a vida

E, agora, qualquer coisa que eu cometa
Jamais será tão fria e dura
Quanto ter-me guardado em proveta
Paixão que não quer seja sua

Claro que te perdôo, embora não seja
A tua verdade o que me ofenda
A condição masculina, quero que veja:
É sempre existir, sem ter quem a entenda

Você me veio do céu
Um anjo lindo que apareceu
Querer você, me fez réu
Pois havia um que me precedeu

Não estou puto por não responder
Devo aprender minha lição:
Tendo ou não o que dizer
O homem não recebe atenção

As noites não serão boas
Mesmo com Deus, você me faz falta
"Se cuida!" Sua mensagem ecoa
Cuida de mim, a noite vai alta.

Agora me resta apenas seu nome
Claro como a luz, como o Luar
Tal qual o anseio do que tem fome
Desejo você, e nem posso gritar.

(Fernando Vieira - 02/07/2009 - Sobre as duras escolhas que temos de fazer).

domingo, 28 de junho de 2009

Reconhecimento

Senti medo nas últimas semanas
De ter me perdido
De não ter quem me procure

Senti alívio nesses dias
Quando juntos, teu rosto com o meu
Admitimos o que sabíamos

Tenho pensado por essas noites
Sobre o nome desse coisa
E o que ela, realmente, significa

Não há palavras, sequer definições
Só essa coisa dentro da gente
Que se concreta, quando respiramos juntos

E trocamos o que sai da gente
Você respira eu te absorvo
O que sai de mim, fica em você

E em minha mente você permanece
Seus olhos, sua voz, sua pele
Seu cheiro, sua pessoa.

(Fernando Vieira - Inverno de 2009)

sexta-feira, 5 de junho de 2009

Brilho dos olhos nos olhos


E de repente:
O tempo parou.
O pulmão suspendeu.
Brilho dos olhos nos olhos!

E de repente:
O braço correu,
Você bem mais perto,
Meu queixo em teus ombros.

E de repente:
A sua respiração
E o ar me faltando!
O silêncio entre nós dois.

E de repente:
Tudo podia parar,
Se assim fosse meu dia-dia,
Esse tempo poderia ser sempre!

E de repente:
Nada mais importa.
Que sumisse o progresso,
Que a evolução jamais avançasse!

E de repente,
A vida:
Só eu e você.

(Fernando Vieira - sobre os anjos que nos vêm visitar 05/06/2009).

segunda-feira, 25 de maio de 2009

Promessa

Eu prometo que um dia
Te escrevo um poema
Que bem podia ser esse
Mas eu não posso me entregar.

Porque você sabe bem
Que é digna dele
Mas, como não quer se entregar
Também não pode pedir um.

Nele eu diria que você é surpreendente
E que traz toda a surpresa com você
Fazendo da surpresa um doce manjar
Que eu me surpreendo ao provar.

Mas também, que me bota medo
Pois sua doçura chega a tal ponto
Que quase não me importo de ser um segundo
De ser um terceiro.

É aí que tremo de medo
Pois, além dos momentos mágicos e divertidos
Com você minha honra não vale nada
Tudo vale você.

Por isso tenho certeza que
O melhor é ficar quietinho na minha
Antes que eu já não tenha mais forças
Para fazer de conta que você não é surpreendente!

(Fernando Vieira - Outono 2009)

quarta-feira, 6 de maio de 2009

Em Recuperação


Eu não me atrevo a julgar a realidade
A minha, a que vivo nesse instante.
Porque não quero pecar contra Deus.
Sequer imaginar qualquer coisa.

Eu não quero me deter no fato
De que tenho pedido sua ajuda.
Eu apenas peço e torço pelo bem
De receber as bênçãos divinas.

E quando Deus me olha e estende a mão,
Me vejo em seus braços como um filho,
Que não pergunta o porquê de tanto bem,
Apenas o recebe desesperadamente.

E se é ele o responsável, o doador das graças,
Por que vou me interrogar se sou merecedor?
Mais ajuizado que Deus não há.
Ele sabe o que faz!

É então que me assusto com a vida,
A vida que ele parece querer me mostrar
E que eu, como uma mula, por tanto tempo quis renegar.
Porque dá medo pensar em tanta liberdade.

A gente é pássaro novo, preste a cair do galho.
Até sabe que pode voar,
Mas cadê a coragem para se jogar?
Vem a vida e empurra a gente!

Então eu fico assim,
Pianinho, tentando sobreviver,
Tentando aprender a lição
Que tantas vezes deixei por fazer.

E assim, no caderno da vida,
Vou escrevendo essa estranha lição
No meu garrancho mesmo, ninguém é perfeito,
É bom poder contar com as borrachas que Deus nos dá.

(Fernando Vieira – Sobre um novo aprendizado – Outono de 2009).

terça-feira, 28 de abril de 2009

A Insustentável Pessoa de Um Ser


Não poder ser o herói que reside em si,
Não poder ter a mocinha digna dele,
Saber que ela não existe,
Decepcionar-se com isso.

A vida menos elegante a cada instante,
A história sendo uma repetição de erros,
O desespero tomando conta,
O stress querendo explodir.

Resistir a essa vida, todo santo dia!
Vencer a alcatéia dos leões que nos cercam,
Persistir, apesar da dor,
Manter-se de pé, embora a realidade.

Descobrir-se, por fim, um anti-herói,
Casado com a incongruência.
Saber que só se quer sobreviver,
Até que nada mais importe!

Torcer pela oportunidade santa
Que lhe impedirá de ver seu lado negro,
Para assim supor-se um herói,
Para poder escutar o travesseiro.

Reconhecer-se Ser e Humano,
Imperfeito como tal.
Despir-se das fantasias
Para enfim morrer em paz.

(Fernando Vieira – Três dias antes do Carnaval)

terça-feira, 14 de abril de 2009

Infantes


E pôs Deus na terra um ser espontâneo
Tal a criança que não esconde sua falha
A mercê de sua essência, instantâneo
Vítima da vida, ou coisa que o valha

Penso que Deus muito amou o homem
Esse sujeito que não segue convenções
Nem se importando se por doido lhe tomem
Seguindo a vida com suas tradições

Se nervoso, explode, não vai disfarçar
Se ao choro resiste, é pra evitar a vergonha
Têm nó na garganta, isso o vai delatar
Se a força é sumida: por desculpas não sonha

Em ciúmes ardeu, ao desejo do homem
Que sentia-se só, sem expelir sua vida
O ser exigente, que a confiança consome
Foi dado pra ele. Começa então sua lida.

Aí estão elas, a mirar inocentes
Foram feitos gaiatos para esse cinema
À tragicomédia assistem, impertinentes
Impassíveis os vêem viver o dilema

Disputam esse autêntico, o céu e a terra
Que possui o dom dos extremos louvar
Deus e a mulher, em constante guerra
Pela alma do homem que os pode exaltar

Quem fará para ele uma boa armadura,
Que o possa blindar do rubor inerente?
E com isso poupar sua alma sem cura
Das feridas e cortes que lhe afligem sempre?

(Fernando Vieira, 30/10/2008)

terça-feira, 31 de março de 2009

Segunda-feira, depois de um bife à Parmegiana.


Somos iguais
Os mesmos sentidos
Somos os mesmos

Por tão parecidos
Erros fatais
Por sermos amigos

A mesma porção
A noite lateja
O mesmo pensar

No mesmo propósito
O dia amanhece
No mesmo querer

Você arrisca
Eu pego no ar
Você só cisca?

De novo o tempo
A mesma armadilha
De novo uma amiga

A gente se olha
Dentro um do outro
A gente sabe um do outro!

(Fernando Vieira – Outono de 2009).

Segunda-feira, depois de um bife à Parmegiana.





O POEMA QUE AQUI CONSTAVA FOI RETIRADO POR FALTA DE ELEVAÇÃO DO LEITOR. QUEIRA ME DESCULPAR POR ESTE TRANSTORNO.

sexta-feira, 20 de março de 2009

INSÔNIA


Quatro noites sem dormir
Talvez por ter calado minhas queixas
Ou por não ter liberto tua alma
Fui tomado por teu veneno

Estão todas engasgadas em mim
Travadas, não as deixo fugir
Porque não quero sentir tudo isso de novo
Solta-las será minha escravidão.

Cada cheiro teu que senti, cada exalar de teu corpo
Era um pedaço de tua alma que se abrigava em mim
Agora quero estar no teu corpo, entrar por teus poros
Tua alma a ti quer voltar e, eu, em ti quero morar

Que serpente usaria de tal artifício?
Olhavas-me com teus olhos d’alma
Sem haver qualquer interesse, a não ser, talvez
Um sutil desejo de futuro subjuntivo

Não fazias menção do meu presente
Mas, agora, temerário é meu futuro
Despertastes em mim a fremência
Continuo só, enquanto você desfruta seu adjunto.

Ah! Por que estás tão longe de mim?
Não bastava o tempo, e agora o espaço é contra mim também?
Não sentir o teu calor, não poder passar-te o meu vapor
Como poderei te impregnar da minha alma?

Não espero bons cantos, nem bons ares para voar
Se fosse um áugure, certamente, não seria bom meu agouro
Só posso esperar pelo que a vida sempre me deu
Só tenho meu desabafo, outra vez me torno escravo

Queria poder dormir, e somente esquecer esses dias
Esquecer que amei, que sempre amei sozinho
Toda minha vida foi uma paixão solitária
Um exagero de emoções, tanto barulho por nada.
(27/11/07 11:28 da manhã, para Manu)

segunda-feira, 16 de março de 2009

DESEJO


E se eu não tivesse que dizer nada
E o Senhor me respondesse?
E se eu pudesse ser tudo o que sou
Sem me preocupar contigo?

E seu eu acreditasse, mesmo, na fé que professo?
De forma que meu pecado se fizesse graça?
E, dessa forma, fazendo uso do meu erro
Como a serpente no deserto, encontrasse a cura?

E se tudo isso for verdade e eu só tenha medo?
E se o medo fosse embora e com ele minha fraqueza?
E se não houvesse nenhum “mas”? Pois é ele o meu problema.
E se eu, simplesmente, cresse?

Se eu tivesse coragem, se fosse um inconseqüente,
Eu pegava agora meu desejo e fazia pecado.
Eu pagava pra ver, eu quebrava os limites,
E ainda gozava tranqüilo o seu perdão.

(Fernando Vieira – última semana de verão/2009)

quinta-feira, 12 de março de 2009

TARA


Bota aquele vestido
Aquele verde musgo
Que me enleva a libido
E faz mexer-me brusco



Deixa eu pensar em você
Toda suja de glacê
Do jeito que eu quiser
Vivamos nosso affair







Minha mão no seu joelho
Subindo, lhe arrepia toda
Fazendo subir os pelos
Verte de sua flor a gota

Sem poder resistir
Me solta seus suspiros
Desejo que não pode inibir
Me leva pros seus retiros
(Fernando Vieira - para Lilian)


























quarta-feira, 4 de março de 2009

A PESCA



Procurando na rede uma imagem
Que me lembrasse seu verde vestido
Dei de cara com esse lindo visage.

Seu retrato à deriva, solto no espaço,
Esperando por mim, quem sabe?
E eu lhe encontrei num mundo vasto!

Dá uma olhada, em você mesma, agora!
Enquanto medita sobre esse encontro,
Que destino é esse que a gente ignora?

(Fernando Vieira – sobre o acaso – 04/03/2009).

sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009


Será que não há nada errado? Veja bem: considere uma amizade. Esse seu amigo, com o qual você se deleita quando junto, e que você sente saudade quando longe. Por que você o tolera tanto? Não venha me dizer que ele tem menos defeitos que os demais humanos, sejamos sinceros! Aceitemos o fato de que o Amigo goza do privilégio do amor. Ah, a Fraternidade! É ela que lhe dá forças pra sempre recomeçar, é ela quem lhe dá motivos pra sempre seguir em frente, tolerando os erros de seu amigo. É ela que fortalece os laços do respeito entre duas almas. Por falar nisso, quem, diabos, inventou que o amor entre um homem e uma mulher tinha de ser o Eros e não o Philos? Imagine se houvesse o mesmo respeito e tolerância entre os dois como existe entre os amigos! Não faz muito tempo falei isso a uma certa mulher, que insistia em minar nosso relacionamento com joguinhos de sedução – coisa que nunca vi numa amizade: já pensou você fazendo constantes testes ou jogos para ver se possui uma amizade verdadeira ou, ainda, para deixar seu amigo mais interessado na amizade? – enfim, disse-lhe que não achava que fôssemos amigos, embora eu muito quisesse, disse também que se fôssemos amigos seria bem provável que não teríamos terminado. Ela não gostou, é óbvio e creio, mesmo, que ela nem entendeu meu ponto de vista, mas o fato é que entre amigos não existe desconfiança, testes ou jogos. É o sentimento mais forte que existe! A amizade, simplesmente, vem e se instala, não dá pra fugir, não importa quantos defeitos esse amigo tenha, de uma maneira miraculosa você abrirá um leque enorme de licenças, indultos, clemências, perdões e desculpas. Você já viu isso entre um homem e uma mulher que sejam amantes?
Não vou mais me enganar, o Eros é inerente na raça humana, é a força da vida que nos impede de entrarmos em extinção, ele sempre vai estar conosco. Portanto, vou usar sua força para amar alguma amiga, a combinação perfeita: Philos para o amor fazer e Eros para fazer amor.

(Fernando Vieira - sexta-feira de cinzas - 2009)

quinta-feira, 19 de fevereiro de 2009

O Escorpião, o Tempo e a Leoa


Leoa que veio do Sol,
Bronzeada como o metal
De fogo, mas sem etanol,
Rhesus, fêmea oriental:

Nas águas fui formado
Galopando pela terra
Marte e Plutão: O meu reinado
Escorpião, que faz a guerra.

Não julgue pelo olhar
Ou pelo que venham lhe dizer.
Pois o meu medo de amar
É o mesmo medo de sofrer

Se o Ocidente nos traz agouro
E o Oriente nos abençoa
A predição do dia vindouro
Confusa nos ressoa

Deixemos de lado os vaticínios
E olhemos pra nós dois agora:
Almas sedentas, como meninos,
Querendo brincar, tão longe embora!

O que esperamos afinal?
Uma luz de certeza acender?
Ou só um ônibus no terminal?
Quanto tempo mais, para lhe conhecer?

(Para Lílian S.F. – Inverno de 2008).
Fernando Vieira.

sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009

Partir


A vida é a seqüela do parto
O parto é uma doença
Que acomete o ser humano
Cedo ou tarde o mata

Quando o parto é fulminante
Mata a mãe na hora da luz
E é passado pra criança.
Mas há também o benigno:

É quando a mãe sobrevive do parto
E continua a morrer só do seu próprio
E o menino segue com um só pra si
E se for menina, ainda há um risco:

Ela pode contrair outro parto
E nesse caso é que pode ser fulminante
E se for, ela morre do segundo e não do que tinha.
E se morrer, o primeiro parto parte com ela,
Mas o segundo parte com a criança.

Se for fulminante mesmo, dos bons,
Leva tudo: Mãe e criança e sobra na cabeça do pai!
E aí esse é o pior, pois o parto se hospeda na cabeça dele
E ele morre de depressão, loucura, ou solidão.

Às vezes a mãe escapa do fulminante
Mas aí o imberbe não, e vai embora pra sempre.
E o parto se divide em dois: na cabeça da mãe e do pai
E fica todo dia neles, com contrações que não desembocam.

E assim vamos todos vivendo
E assim vamos todos morrendo
Dessa doença que chamaram de vida
Mas que eu prefiro chamar de Parto.

É o nome mais apropriado:
Eu parto, ela parte,
Se não agora, em outra hora,
Mas que estamos partindo...

Ah, isso estamos todos!

(Fernando Vieira, sexta-feira 13 de 2009)

quinta-feira, 5 de fevereiro de 2009

Pensão


Essa é minha casa...
Entra por ela
E descansa em algum leito.
Estão todos ocupados,
Embora estejam todos vagos.

Tem quarto pra todo gosto:
Àquelas que curtem barulho
E às que prezam o silêncio,
Às que gostam de dormir nuas,
Às que vestem camisa de força.

Não se espante se, em algum quarto,
Vir a foto de uma dama,
Ou se ao fundo
De uma gaveta
Cartas nunca enviadas antes.

Aqui tem banheiro,
Toma seu banho comigo!
Sala de estar e varanda:
Meus músculos, o seu sofá,
Minha mente, o horizonte.

Aqui só não tem cozinha e copa.
Se eu for comer, te pego onde estiver,
É por segurança: Caso não fique,
Pra não me engasgar na minha saudade,
Não vou ter que me alimentar de você!

(Fernando Vieira – sobre a solidão – 1ª semana de Fevereiro).

terça-feira, 3 de fevereiro de 2009

Não banca a banca!


Você que faz do amor uma roleta,
Jogando minhas fichas com a sorte.
Não vê que não sou dado a vícios?
Meu coração não é um Cassino.

Você que embaralha minha mente,
Cortando minha vida em seguida
E joga-me em partes à roda,
Pensando ser essa a sua mão,

Presta atenção: Lê minhas regras,
O manual é tão acessível!
Só se pode vencer uma máquina
Se o caça-níquel estiver saturado!

Você pensa que está ganhando,
Mas depois vê que gastou tudo.
Todos esses jogos em que se esbalda,
Não valem um amor perdido.

Não há parceria no Pôker,
No Truco é só roubalheira.
Eu não vou apostar minha vida
Numa cartela viciada de Bingo!

Goza sozinha, na sua ilusão,
Pensando que a vida é feita de apostas.
Você deveria ficar longe dos bingos
E não viciada em fazer sedução!

(Fernando Vieira – Terça-feira de Fevereiro).




quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

SOCORRO!



Socorro eu sinto demais!
A mínima fagulha, o insuportável.
Pra piorar, me deram um peito forte,
Que agüenta bem demais.

Socorro eu não consigo explodir!
Me acostumei a resistir a tudo,
A ranger os dentes, a calar meu grito
E a não molhar os olhos.

Socorro, ainda que não seja um berro,
Pois o desespero é real!
E meu silêncio apenas o jeito certo de ser.
É o meu jeito de balburdiar comigo mesmo.

Socorro porque não choro e, no meu caso,
Não chorar é chorar demais!
Há tempos que não venho chorando
E não chorar dói demais.

Socorro, alguém me ajude!
Ajude a esse homem solitário,
Que sabe muito bem qual caminho não vai seguir,
Mas não segue pelos caminhos que gostaria de ir.



(Fernando Vieira – Verão 2009).

segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

Explicações


É...Eu sei, alma, a culpa é minha.
A gente tenta se proteger
Mas, de repente, a força definha
E vai sentindo o desejo crescer

Também, o que você queria?
Aquela moça fez da nossa mente um prego!
Martelava, com sua beleza, todo santo dia!
Não havia como fazer-me de cego.

Além do mais, o que podíamos contra a sorte?
Parece já estar traçado o nosso destino:
Eu e minh’alma, vez por outra, sentindo o corte
Que sangra um amor sem eco, que todo dia refino.

Portanto, nem espere por milagres.
Não me venha com demências!
Pro que sentimos, não há exemplares.
Não conte com a Providência.

Lembremos, somente, daquele sorriso...
A luz que invade nossa treva;
Olhos molhados, cheios de brilho...
Saciam o meu ser, poeta que se preza.

(Escrito em 20/11/07 às 22:20 Para Emanuella)

terça-feira, 20 de janeiro de 2009

Humano sitiado.


Eu vejo a maldade nos olhos do menino
A inocência foi violentada
Até ela perdeu a pureza
Soltou suas mãos da esperança


Eu vejo o mal tomado por prazer
E a traição é tida por virtude
A vaidade engorda em nossos dias
Esfregando a escassez na cara das gentes


Um mendigo pede o pão e a criança lhe nega
Ele chora com os olhos e diz: Só um pão, só um pão...
O medo não abre os ouvidos, apenas os olhos tomados de terror,
Que por não verem mais o homem, permitem ao cérebro trabalhar:

Era só um pão, só um pão, só um pão...!

(Fernando Vieira).


segunda-feira, 12 de janeiro de 2009

Eu, eu e eu, ou seja: nós!




Eu não tinha nenhuma noção de técnicas de representação. Apenas fazia aquilo que minha intuição mandava. Para mim era sempre eu mesmo e nunca um personagem. Um sujeito veio em minha direção, após aquela apresentação amadora e me disse o seguinte: “Parabéns! Você esteve ótimo. Vi em cena um personagem mesmo, não era você”.Aquilo me deixou desconcertado, confesso. Não esperava aquilo, pois, na verdade, o elogio deixou um segredo que eu guardava meio que “vulnerável”. Na verdade ele não estava vulnerável, mas, não sei porquê, senti isso. Afinal, eu guardava aquele segredo a sete chaves. Ninguém poderia descobrir que eu, simplesmente, fazia como se fosse eu mesmo. Com a pulga atrás da orelha resolvi assistir a uma gravação da peça apresentada e me ver. Resultado: levei um susto ao ver outra pessoa ali, em cena, e não mais eu!
A gente entra, então, para um curso profissionalizante de teatro achando que finalmente vai aprender a encenar de verdade. E acabamos desprezando aquilo que nos era inerente, inato. De alguma maneira caí no erro de achar que em cena eu deveria entrar em um outro ser, um outro eu para, dessa forma trazer a verdade e centelha de vida ao palco. Nada como alguns equívocos para entendermos nossos processos! Hoje tenho uma visão mais clara de como é esse caminho da verdade cênica. E acho que o trecho abaixo explica bem o que penso a respeito:
“(...) Sei que isto que estou descrevendo, pessoas divididas em si mesmas, caracteriza o que se chama de doença mental e que vem a ser o oposto absoluto de nossa visão de integração emocional. Toda a visão do Ocidente sobre saúde mental se volta precisamente à direção oposta: o desejável é a congruência entre a autoconsciência e o ser natural. Mas existem aqueles cuja sanidade flui da separação consciente destas duas coisas. Se é que existe um ser natural, um eu irredutível, é bem pequeno, acho, e pode até ser a raiz de toda a personificação – o ser natural talvez seja a própria habilidade, a capacidade inata de personificar. Estou falando sobre reconhecer-se que se é nitidamente ator, em vez de se engolir inteiro o disfarce de naturalidade e fingir que não se trata de uma representação e sim de você”.
“(...) Tudo que posso lhe dizer é que eu, de minha parte, não tenho um eu e que me sinto sem disposição nem capacidade de perpetrar, eu mesmo, a piada de um eu. Não resta dúvida, trata-se de uma piada sobre o meu eu. O que tenho, isso sim, é uma variedade de personificações que sei fazer, e não só de mim mesmo – uma trupe de artistas que possuo internalizada, uma companhia permanente a quem posso convocar quando é preciso um eu, um estoque em expansão de peças e papéis que formam meu repertório. Mas com certeza não tenho um eu independente de meus esforços impostores e artísticos de ter um. Nem iria querer um. Eu sou um teatro e nada mais que um teatro”. (Philip Roth – O avesso da vida – página 363 e 364).


A experiência em cena é que nos faz descobrir nossos rumos, pois se num determinado dia eu não tivesse entrado, esbaforido, sem tempo para me concentrar no meu personagem, jamais lembraria do que é entrar em cena de verdade, viver outra pessoa embora sendo eu mesmo. Aí, como diria Peter Brook, a gente sempre acaba dando uma volta enorme para retornar à primeira coisa que a gente pensou. Eu voltei para meus tempos de amador e descobri o talento inato e reprimido por meu excesso de teoria. Há uma frase que o professor Zé Aires me disse e que jamais esquecerei, a qual corrobora, exatamente, essa questão dos “eus” de Philip Roth: “O personagem está na cabeça de quem? Na sua ou na do público?” A resposta é o público, porque nós, atores, não teremos este poder de viver outra vida a não ser que façamos apenas uma coisa: Escolher com quais dos nossos eus vamos trabalhar. Sendo nós mesmos, sendo outra vida! Viva o teatro.

sexta-feira, 9 de janeiro de 2009

Jabaquara


O caos
A tremedeira
A janela
O costume

O avião
O seu efeito
O telhado
O seu motor

O ônibus
O Cruzamento
Eu
Um Acidente

O motoqueiro
A Buzina
O meu sofá
Inesperado-corriqueiro

A minha vida
A minha casa
Eu na janela
Televisão.

(Fernando Vieira – 21 de outubro 2008).

segunda-feira, 5 de janeiro de 2009

Complô


De novo o tempo
Foi como o vento
Passou por nós
Nem tomei tento

Fiz minhas cenas
A duras penas
Mas, com você,
Sequer resenhas

Tomei por pronto
O nosso encontro
Em vez de flor
Me deram tronco

Passou a vida
Por nossa lida
Por nossa cena
Não houve figa

Alguém parece
Que o mal nos tece
Por isso a Deus
Eu faço prece:

Que com carinhos
E muitos vinhos
Andemos juntos
Nossos caminhos


(14/12/07 23:44)