sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009


Será que não há nada errado? Veja bem: considere uma amizade. Esse seu amigo, com o qual você se deleita quando junto, e que você sente saudade quando longe. Por que você o tolera tanto? Não venha me dizer que ele tem menos defeitos que os demais humanos, sejamos sinceros! Aceitemos o fato de que o Amigo goza do privilégio do amor. Ah, a Fraternidade! É ela que lhe dá forças pra sempre recomeçar, é ela quem lhe dá motivos pra sempre seguir em frente, tolerando os erros de seu amigo. É ela que fortalece os laços do respeito entre duas almas. Por falar nisso, quem, diabos, inventou que o amor entre um homem e uma mulher tinha de ser o Eros e não o Philos? Imagine se houvesse o mesmo respeito e tolerância entre os dois como existe entre os amigos! Não faz muito tempo falei isso a uma certa mulher, que insistia em minar nosso relacionamento com joguinhos de sedução – coisa que nunca vi numa amizade: já pensou você fazendo constantes testes ou jogos para ver se possui uma amizade verdadeira ou, ainda, para deixar seu amigo mais interessado na amizade? – enfim, disse-lhe que não achava que fôssemos amigos, embora eu muito quisesse, disse também que se fôssemos amigos seria bem provável que não teríamos terminado. Ela não gostou, é óbvio e creio, mesmo, que ela nem entendeu meu ponto de vista, mas o fato é que entre amigos não existe desconfiança, testes ou jogos. É o sentimento mais forte que existe! A amizade, simplesmente, vem e se instala, não dá pra fugir, não importa quantos defeitos esse amigo tenha, de uma maneira miraculosa você abrirá um leque enorme de licenças, indultos, clemências, perdões e desculpas. Você já viu isso entre um homem e uma mulher que sejam amantes?
Não vou mais me enganar, o Eros é inerente na raça humana, é a força da vida que nos impede de entrarmos em extinção, ele sempre vai estar conosco. Portanto, vou usar sua força para amar alguma amiga, a combinação perfeita: Philos para o amor fazer e Eros para fazer amor.

(Fernando Vieira - sexta-feira de cinzas - 2009)

quinta-feira, 19 de fevereiro de 2009

O Escorpião, o Tempo e a Leoa


Leoa que veio do Sol,
Bronzeada como o metal
De fogo, mas sem etanol,
Rhesus, fêmea oriental:

Nas águas fui formado
Galopando pela terra
Marte e Plutão: O meu reinado
Escorpião, que faz a guerra.

Não julgue pelo olhar
Ou pelo que venham lhe dizer.
Pois o meu medo de amar
É o mesmo medo de sofrer

Se o Ocidente nos traz agouro
E o Oriente nos abençoa
A predição do dia vindouro
Confusa nos ressoa

Deixemos de lado os vaticínios
E olhemos pra nós dois agora:
Almas sedentas, como meninos,
Querendo brincar, tão longe embora!

O que esperamos afinal?
Uma luz de certeza acender?
Ou só um ônibus no terminal?
Quanto tempo mais, para lhe conhecer?

(Para Lílian S.F. – Inverno de 2008).
Fernando Vieira.

sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009

Partir


A vida é a seqüela do parto
O parto é uma doença
Que acomete o ser humano
Cedo ou tarde o mata

Quando o parto é fulminante
Mata a mãe na hora da luz
E é passado pra criança.
Mas há também o benigno:

É quando a mãe sobrevive do parto
E continua a morrer só do seu próprio
E o menino segue com um só pra si
E se for menina, ainda há um risco:

Ela pode contrair outro parto
E nesse caso é que pode ser fulminante
E se for, ela morre do segundo e não do que tinha.
E se morrer, o primeiro parto parte com ela,
Mas o segundo parte com a criança.

Se for fulminante mesmo, dos bons,
Leva tudo: Mãe e criança e sobra na cabeça do pai!
E aí esse é o pior, pois o parto se hospeda na cabeça dele
E ele morre de depressão, loucura, ou solidão.

Às vezes a mãe escapa do fulminante
Mas aí o imberbe não, e vai embora pra sempre.
E o parto se divide em dois: na cabeça da mãe e do pai
E fica todo dia neles, com contrações que não desembocam.

E assim vamos todos vivendo
E assim vamos todos morrendo
Dessa doença que chamaram de vida
Mas que eu prefiro chamar de Parto.

É o nome mais apropriado:
Eu parto, ela parte,
Se não agora, em outra hora,
Mas que estamos partindo...

Ah, isso estamos todos!

(Fernando Vieira, sexta-feira 13 de 2009)

quinta-feira, 5 de fevereiro de 2009

Pensão


Essa é minha casa...
Entra por ela
E descansa em algum leito.
Estão todos ocupados,
Embora estejam todos vagos.

Tem quarto pra todo gosto:
Àquelas que curtem barulho
E às que prezam o silêncio,
Às que gostam de dormir nuas,
Às que vestem camisa de força.

Não se espante se, em algum quarto,
Vir a foto de uma dama,
Ou se ao fundo
De uma gaveta
Cartas nunca enviadas antes.

Aqui tem banheiro,
Toma seu banho comigo!
Sala de estar e varanda:
Meus músculos, o seu sofá,
Minha mente, o horizonte.

Aqui só não tem cozinha e copa.
Se eu for comer, te pego onde estiver,
É por segurança: Caso não fique,
Pra não me engasgar na minha saudade,
Não vou ter que me alimentar de você!

(Fernando Vieira – sobre a solidão – 1ª semana de Fevereiro).

terça-feira, 3 de fevereiro de 2009

Não banca a banca!


Você que faz do amor uma roleta,
Jogando minhas fichas com a sorte.
Não vê que não sou dado a vícios?
Meu coração não é um Cassino.

Você que embaralha minha mente,
Cortando minha vida em seguida
E joga-me em partes à roda,
Pensando ser essa a sua mão,

Presta atenção: Lê minhas regras,
O manual é tão acessível!
Só se pode vencer uma máquina
Se o caça-níquel estiver saturado!

Você pensa que está ganhando,
Mas depois vê que gastou tudo.
Todos esses jogos em que se esbalda,
Não valem um amor perdido.

Não há parceria no Pôker,
No Truco é só roubalheira.
Eu não vou apostar minha vida
Numa cartela viciada de Bingo!

Goza sozinha, na sua ilusão,
Pensando que a vida é feita de apostas.
Você deveria ficar longe dos bingos
E não viciada em fazer sedução!

(Fernando Vieira – Terça-feira de Fevereiro).