segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

Poema rápido para afogar as últimas mágoas no ano.

Vai âncora das minhas mágoas
Rebenta a superfície ondulada
Da superfície enganosa das águas

E afunda bem fundo, no escuro quieto
Pousando ali pra sempre, no esquecimento
Todos dissabores que me seguiram de perto

E pega alguém o machado afiado, lâmina algoz
Pra quebrar de uma vez pra sempre a corrente
Da memória aguda que me gruda a esses nós.

Vai nau desperta e desesperada, vai veloz nas vagas
Desliza ao teu destino desconhecido e que seja bom
Para que nunca, jamais tenhas de rogar pragas

Iça apenas tuas velas e que o vento te leve
Que o vento te vele e te vente, sopra com ele
Que seja feliz tua ida, que seja Deus quem navegue!

Fernando Vieira

terça-feira, 8 de dezembro de 2009

Eu vivo Caetano

Pessoal, não é do meu feitio usar criações alheias, mas o Caetano é o Caetano, né?

Um amor assim delicado
Você pega e despreza
Não devia ter despertado
Ajoelha e não reza

Dessa coisa que mete medo
Pela sua grandeza
Não sou o único culpado
Disso eu tenho a certeza

Princesa, surpresa, você me arrasou
Serpente, nem sente, que me envenenou
Senhora, e agora, me diga onde eu vou
Senhora, Serpente, Princesa

Um amor assim violento
Quando torna-se mágoa
É o avesso de um sentimento
Oceano sem água

Ondas, desejo de vingança
Dessa desnatureza
Bateu forte sem esperança
Contra a tua dureza

Um amor assim delicado
Nenhum homem daria
Talvez tenha sido pecado
Apostar na alegria

Você pensa que eu tenho tudo
E vazio me deixa
Mas Deus não quer que eu fique mudo
E eu te grito esta queixa.

terça-feira, 1 de dezembro de 2009

Princesa

Puseram na cabeça dela que era uma princesa. Isso não me foi novidade. Eu sempre soube que toda mulher acredita que seja, de fato, uma princesa. Mais do que isso: acreditam, impiamente, que sejam estrelas grandiosas como o Sol. Eis aí o maior engano, pois os astros não possuem movimento de rotação, e é isso o que é a vida de uma mulher, rotar em torno de si mesma, mascarando sua auto-idolatria com fragilidades e meiguices, dizendo elas serem esses os motivos de não suportarem a dureza masculina, a verdade dura e rude masculina. Não é nada disso, é apenas seu amor próprio ferido. Nelson Rodrigues mesmo diz que toda mulher nutre um amor lesbiano por si mesma. É fato.
Desconfie de toda dedicação feminina. Desconfie meu caro. Não se trata de abnegação, em nome de uma amor sublime que sinta por alguém. Elas sabem que, mais cedo ou mais tarde, esse ser vil - o homem - com suas praticidades grosseiras lhes dará azo para fazerem-se de vítima e, tenha certeza, vão se fazer de vítimas. É nessa hora que o homem mostra toda sua estupidez humana e assume para si uma culpa que não é sua. Dessa forma, e já vão aí algumas décadas, de tanto que assumimos culpas absurdas, fomos crescendo acostumados a aceitar que não passamos de dragões, corcundas ou sapos nesse enorme conto de fadas que se tornou a vida moderna. Até que, de repente, de tanto que se calou, esse homem-dragão explode e acorda num mundo novo, onde toda cegueira inexiste.
O que ele vê? Que na verdade é ele quem esteve preso na torre, junto com tantos outros homens, que se tornaram escravos dessas megalomaníacas reais, vivendo a vida inteira em função de uma realeza que continua a exercer um despotismo absurdo contra a psiquê de seres que apenas as veneram.
Há aqueles que acreditam tanto nesse conto da carochinha que preferem travestir-se delas, não porque acreditem que vieram no corpo errado, mas sim porque incoscientemente acreditam que ser homem é a coisa mais vil que podia acontecer a um humano.
Estou feliz com minha masculinidade - e que me chamem de machista - estou feliz por não estar disposto a alimentar as frescuras reais de nenhuma princesinha alienada.