quinta-feira, 13 de agosto de 2009

A Vida É Ressaca


O que não me cabe no peito
Deve ser solto aos poucos
Em cada estrofe, num verso.
Vai ser um poema longo.

O nevoeiro da vida
A treva tão espessa e branca
Ouvidos tapados, cadê meu grito?
Estou cansado, eu quero chorar.

Alma úmida e gelada
Faz os dentes morderem-se
Há tantos galhos pra podar
De tantas coisas falarei:

Essa sua ausência,
Que me põe triste e servil.
A ausência da luz
Que não me deixa dormir.

Perguntas que não me atrevo
Não quero expor minhas fraquezas.
Descobrir o indecifrável
Temer o seu segredo.

Engolir meu pranto,
Não há quem queira enxugá-lo.
Haveria alguém digno de minhas lágrimas?
Secar não basta. É preciso bebê-las.

Estou sozinho!
Que pecado cometi?
Fui feliz em outra vida?
Neguei ajuda a toda Terra?

Só, não fossem meus eus!
São eles que me acompanham
Ora me dando acordo, ora me afrontando.
Então eu estou só, é isso mesmo?

Preciso endurecer,
Enrijecer o peito,
Não contar com ajudas,
Não abrir a palma da mão.

Quero voltar à estupidez,
Estandartizada por minha adolescência.
Quando eu era um mero arrogante
Que não contava com ninguém.

Quero descrer de uma vez só na vida
Jogar fora o defeito da esperança
Que há tanto tempo trago comigo.
Esquecer a minha religião.

Pra adiantar de vez minha vida
Por minha força apenas, segundo meus meios
E se isso significar a abreviação da vida,
Que sejam cortados meus dias e adiantada minha paz.

Que um milagre me cure dessa ressaca
Que insiste em me arrancar e devolver
Tudo o que na minha vida não anda
Maldito fluxo e refluxo!

Quisera eu desvendar os segredos de Deus
Mesmo que eu morresse em seguida
Já não sei o que mais importa:
Viver ou saber. Só quero ser feliz.

Que meu corpo tenha força outra vez
Só por agora, nesse momento,
Pra que o choro seja posto fora,
Aqui dentro não dá, é apertado demais.

(Fernando Vieira – 09/08/09 – Sobre a ausência que é presente na vida).

4 comentários:

  1. Dizem que não se pode separar autor e obra.
    Dizem que não se pode separar sensações e palavras.
    Dizem que muitas coisas ficam vazias quando partidas para seus caminhos próprios.
    Tenho medo disso.
    E nunca consigo ler algo sem pensar em tudo isso!

    E o mundo se perde tentando encontrar algo.

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  2. E novamente eu me apeguei ao que acabo de escrever, e vou ser obrigada a postar mais tarde. rssss

    :o)
    Beijos!

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  3. escrever... uma arte tão egoista, escrevemos algo e divulgamos pq acreditamos que aquilo que escrevemos será útil a alguem... mesmo assim escrevemos.

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