terça-feira, 23 de dezembro de 2008

Nascido em nove de julho



Ontem eu encontrei meu inimigo, que tão de perto me segue. Eu, que às vezes penso não ter mais forças para lutar. Eu sei que, na verdade, foi ele quem me fez acreditar e agora essa idéia custa a sair da minha cabeça.
Quando você estiver nessas lutas não declaradas, onde o maior golpe que você pode dar é apenas resistir, dê corda para seu inimigo para que, quando ele menos esperar, você o surpreenda – surpreenda-se até, por que não? – com o ato mais impensado, impensado até mesmo por você.
Ontem eu fui pra luta, ciente de que todos os homens têm seus próprios inimigos, embora não pareça, porque é do homem o calar-se. Foi disso que arranquei forças: saber que todos estão sob constante ataque, a todo instante e que, por incrível que pareça, todos usam a mesma arma: o Silêncio.
Quando me dei conta disso e também dessa força misteriosa que insiste em nos humilhar, fazer com que beijemos o pó de nossa própria pele – pois é isso que é o pó – vi também a covardia. Pois é do homem usar a assonância da quietude em proveito próprio, mas, em contrapartida, desferir golpes mordazes contra seu semelhante. É aí que vemos o paradoxo: tantos homens brigando suas guerras fatais, urgentes, todos no auge de seus desesperos, como pés de milho agitados ao vento, mas que não fazem sequer um barulho; e quão absurdo é notar que estão fazendo tanto barulho, ao mesmo tempo, a fim de desmoralizarem seus irmãos de sentença, os quais lutam a mesma guerra, contra o mesmo inimigo, embora particular.
Ontem peguei meu inimigo e fiz dele minha força. Agarrei seu orgulho e bati, até sangrar, e quando sangrou enfim, bebi seu sangue. De meu inimigo bebi, enchi-me dele, para que eu fosse mais eu. Ele não esperava tal ato, nem eu mesmo, é verdade. Mas fiz e senti-me senhor de mim.
Quando ontem venci minha luta, supus que jamais veria meu inimigo de novo, achava-me vencedor e ao que vence há pouco a se ponderar.
Ontem, quando sobre nada ponderava, deitei minha cabeça no travesseiro, surpreso, ainda, de ter ido tão longe para derrocar meu algoz. Tão logo acordei, vi-me face a face com meu transgressor. Cheguei à conclusão de que ser homem é ter que matar seu inimigo todo dia, de preferência de manhã, para se ver livre o resto do dia. Mas a hora ninguém sabe, pois tudo à nossa volta liberta o que trancamos ontem, seja a nossa força, seja o nosso ser, nossa mente, nossas fadas...Sim, as fadas, são elas que os libertam, para que todo dia os matemos. Quer saber como matar seu inimigo todo dia? Encontre quantas fadas mais puder, desde de que sempre tenha uma certa. Porque a certa lhe trará sempre o seu inimigo e esse é seu dever matar; as outras que você arranjar, trarão outros inimigos, de outros homens, que você, matando, apenas se sentirá apto para matar o inimigo seu de todos os dias, todos os anos e todas as fases.
(Fernando Vieira – 23/12/2008).

4 comentários:

  1. My querido Fernando, tem one coisa that Eu don't sei... If eu have que write em Portuguese ou in Inglês..... Just pq you respondeu me em English em my Blog... Então... what vc think?
    I tmb can continuar writing como I estou writing agora... MIXING LINGUAS..... What vc prefere?
    many muitos kisses beijos!!!

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  2. Aê!!
    Cara, eu li a peça! Curti bastante! Acho que dá pra vcs explorarem a questão da teatralidade bem a fundo! Por vezes me lembrou "A morte do caixeiro viajante", não pela história, mas pelo lance do foco...durante o texto o autor ele trabalha com focos, por exemplo em cima da cadeira e tal...é mto bom esse texto. Se ainda não leu, procura ler que vc vai curtir. Tem algumas coisas que quero falar com vc mas por e-mail, blog, telefone, não dá. Alguns lances que quero explicação do dramaturgo...rs

    Vc vai viajar (além daquela viagem que vc faz pra Franco)? Podemos marcar qualquer coisa por aí.

    Abraço

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  3. whatseIcomeçartoescreverlikeabaixo:

    somav rev es ecov ednetne! heheh!

    did u get it??? If yes, u will be able to answer me this:

    euq lat somri oa ortaet ritsissa "onihccelra o"? An oacalosnoc, ortaet ennumoc!

    Kisses! Bisous! Baci! Besos! Beijos!
    Nubiedubieduuuuuu ;)

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  4. Poxa....
    Também li a peça!
    Também tenho considerações a fazer pessoalmente! HeHe
    (só para bater a curiosidade...)


    ^^
    Bjos.

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